terça-feira, 30 de janeiro de 2024

POBRES CRIATURAS – formidável em esbanjar | CRÍTICA



De tempos em tempos, aparecem filmes que devem ser apreciados tendo o mínimo de conhecimento prévio possível sobre sua narrativa e Pobres Criaturas (Poor Things, no original) enquadra-se perfeitamente nessa categoria. Com a informação adicional de que o longa é dirigido por ninguém menos do que Yorgos Lanthimos (A Favorita, O Sacrifício do Cervo Sagrado), é mais do que esperado que a aventura será extravagante e sem escrúpulos, ainda que, desta vez, há um empenho soberbo em fazer desta uma experiência altamente artística como o circuito comercial pede há tempos.


Sob o aspecto de direção de arte, o filme é como se fosse uma criação conjunta dos estilos de Jean-Pierre Jeunet e Tim Burton, cineastas que levaram o grotesco e o gótico suave à aclamação do público, esbanjando cenários surrealistas e fundos como se feitos por matte-painting que, apesar de lúgubres em sua rememoração do final da era vitoriana, encantam por seus detalhes. Tudo está a favor da narrativa, que se espelha em seguimentos estéticos do próprio Cinema para contar esta jornada fabulosa de Bella Baxter (Emma Stone) pinçando desde elementos de Méliès e do Expressionismo Alemão à primeira era de monstros da Universal, daí, as cores que vêm com a libertação pelo sexo e uma trama mais densa com um toque de Bernardo Bertolucci (...por bem ou por mal).

(© Searchlight Pictures/Reprodução)


Outro deleite é a direção de fotografia de Robbie Ryan (A Favorita). Da sua progressão da monocromia ao emprego das cores, Ryan torna a utilizar lentes grande-angulares não só para reforçar a estranheza do conto (a ponto de surgirem vários planos esféricos fazendo ambientações), mas para enquadrar os cenários sem necessariamente causar mais cortes ou utilizar movimentos panorâmicos. Cada vez mais, as imagens são tão fascinantes que dá vontade de passear pelas ruas ou até embarcar num navio e aproveitar também as cativantes performances do elenco, que tem também Willem Dafoe, Mark Ruffalo e Kathryn Hunter.


Com indicações ao Oscar, Figurino e Design de Produção não passam batido pela projeção.
(© Searchlight Pictures/Reprodução)


Bem melhor do que o enganoso Saltburn, ainda que passível de reflexões sobre a abordagem de Lanthimos e seu roteirista Tony McNamara a partir do livro de Alasdair Gray a respeito da emancipação feminina ...com olhar masculino, penso que Pobres Criaturas é o filme ideal pra quem gosta de uma história bem amarrada e que, a começar com a performance gigante de Emma Stone, espera se surpreender em todos os sentidos até mesmo para quem já se acostumou com as estranhezas do cineasta.




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