terça-feira, 9 de janeiro de 2024

OS REJEITADOS – a favor do não-esquecimento | CRÍTICA


Mascaradas por virtudes religiosas, é cada vez mais evidente que convenções capitalistas tornaram a época de Natal em uma cerimônia de coletividade obrigatória, ainda que sobram relatos de pessoas reclamando de parentes desagradáveis com perguntas ainda piores, piadas que envelheceram mal entre outros tópicos próximos de um pesadelo. Ainda assim, o desejo de estar perto de um ente querido logo em uma circunstância tão propícia a isso ou de contornar adversidades é um dos gestos mais bonitos que ainda se tem durante essas festividades natalinas e que Alexander Payne entrega com sutileza em Os Rejeitados.


Lançado tardiamente no circuito brasileiro, porém, fortalecido pelas premiações de Melhor Ator e Melhor Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro, The Holdovers (título original) chega com uma roupagem característica de títulos natalinos e que reforça o instinto de solidão em tempos bem menos conectados: no final do ano 1970, em um colégio interno masculino em uma cidade pequena, um professor tido como rabugento é obrigado a passar o recesso com alguns alunos que não puderam regressar às suas famílias. Habituado a ser sozinho, Paul Hunham (Paul Giamatti) não tem (muito) o que reclamar até que precisa lidar com o turbulento aluno Angus Tully (Dominic Sessa) e sua vontade de retornar para Boston.


(© Focus Features/Divulgação)


Roteirizado por David Hemingson, o filme tem aquele toque mundano que Payne nos habituou a acompanhar em seus filmes, ainda que só temos Giamatti como o nome e rosto mais conhecido. Detalhes banais da rotina se tornam momentos de risada com piadas que levaram a promoção do filme a colocar um slogan com a frase "atrapalhados e divertidos", mas os momentos cômicos estão pareados com partes mais dramáticas, principalmente quando descobrimos mais sobre a cozinheira Mary Lamb (Da'Vine Joy Randolph), os motivos de Hunham se assumir tão solteirão e até o lado familiar do jovem Tully. É reconfortante acompanhar essa jornada coletiva do trio em proporcionar a cada um deles um momento de mais alegria logo em um ano em que lhes foi bastante desagradável.


(© Focus Features)

Os Rejeitados, enfim, pode não ter firulas fotográficas (a não ser seu tratamento de cor bem típico de uma película setentista) e encontra sua força no registro urbano e até no saudosismo dos ambientes do colégio, mas oferece uma boa história com o que tem em mãos, além da ótima performance de Paul Giamatti. Há também um compartilhamento de cumplicidade que nos faz torcer pelos personagens acima de todos os moralismos de então – e que bom que a busca da felicidade está na rota.

 


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