sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

A Última Lição | CRÍTICA


Aclamado pela crítica francesa, A Última Lição (La Dernière Leçon, no original) é o mais novo filme da francesa Pascale Pouzadoux, baseado no livro homônimo de Noëlle Chatelet, livremente inspirado na narrativa autobiográfica da autora e sua relação com a mãe, Mireille Jospin. Ao contrário do que se espera da história de uma idosa que escolhe pôr fim à sua vida, não se trata de uma trama triste – é uma catarse emocionante, sim, mas repleta de intimidade e graça, trazendo a temática da eutanásia de uma maneira delicada, sem deixar de tocar na honestidade e dureza que perpassam esse tipo de experiência.


Madeleine (Marthe Villalonga) comemora os seus 92 anos com os filhos e suas famílias quando anuncia a data que escolhera para sua morte, acreditando não ser mais capaz de viver independentemente devido aos seus limites corporais, iniciando um processo de definhamento. A notícia, entretanto, é muito mal recebida, o que cria um mal estar familiar ao passo que desencadeia uma iminente discussão sobre a aceitação (ou não) da eutanásia. Nem os filhos Diane (Sandrine Bonnaire) e Pierre (Antoine Duléry) e o neto Max (Grégoire Montana-Haroche) conseguem fazer Madeleine mudar de ideia; os conhecidos tampouco. E então, salvo Diane e Max, personagens redondos, eles passam a assumir comportamentos que tangem a estereotipização em uma parca construção caricatural figurativa.



Diane e Max se contemplam como mãe e filho, alternando os papeis de aceitação e negação, enquanto Pierre incorpora a revolta. Isso sem falar de personagens como a cuidadora e o vizinho, simpatizantes sorridentes – e só. De maneira didática até demais, a diretora valoriza as variadas reações das personagens com uma sutileza sublime. Apesar dessa leveza, algumas cenas parecem soar vazias, interagindo com arco dramático de maneira a não alterar a trajetória dos personagens, como acontece com o aparecimento do amante de Madeleine; quase aderindo à estética da conversa fiada, não fosse a falta de recorrência e desvios dramáticos.

A Última Lição, enfim, trata com suavidade de um assunto controverso, escorregando a mão no melodrama, o que acaba fragilizando a abordagem dramática devido aos excessos e caricaturas. Como um todo, entretanto, é um filme sensível e tocante, carregado também pelo alcance da cumplicidade entre mãe e filha de Bonnaire e Villalonga, acompanhadas por um ritmo poético e subjetivo de quase-luto, (demasiado) emotivo como as personagens. É, sobretudo, uma tentativa comovente.




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