quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Peter Pan | CRÍTICA


Certas histórias, depois de muito tempo, alcançam o status de lenda, por mais fictícias que sejam. Escritas por J.M. Barrie, as aventuras de Peter Pan conquistaram os corações de crianças e os pais destas que, consequentemente, devem ter se lembrado como as brincadeiras na infância eram divertidas. Uma fase em que imperava a imaginação e os medos personificados em vilões. Igualmente imaginativo, o novo Peter Pan (Pan) da Warner surpreende por ser uma prazerosa história de origem, mostrando também que a lenda permanece jovem.

Nos últimos anos, os grandes estúdios de Hollywood decidiram investir muito em recontar as histórias de personagens consagrados a fim de apresentar tais contos para novas gerações, além de manter vivas as suas franquias na boca do povo. Não deu certo com O Espetacular Homem-Aranha, muito pouco com Prometheus e Malévola e, recentemente, com o reboot de Quarteto Fantástico. A fabulação das origens daqueles personagens vistos na tela, oferecida ao imaginário do espectador, é suprimida então por ideias de produtores e roteiristas que muitas vezes contrastam com as ideias dos autores originais, até mesmo considerado um desrespeito aos fãs que se apegaram aos cânones. Se o início da fantástica jornada do garoto que não quer envelhecer parece seguir esse errôneo caminho, são os primeiros momentos da aventura que marcam os momentos mais divertidos do filme.


Transpondo este início na época da Segunda Guerra Mundial, o carente, porém ágil, Peter (Levi Miller) de 12 anos mora com outros meninos num orfanato chefiado por freiras glutonas pra lá de severas, que racionam as refeições dos garotos (culpando a guerra) e lhes impondo trabalhos pesados como castigo, isso quando um ou outro órfão desaparece misteriosamente na noite. Em parceria com seu melhor amigo Nibs, Peter vai descobrir os segredos das irmãs até se deparar com piratas surgindo do telhado do prédio e, enrascado, é sequestrado junto com outros garotos em pleno ataque aéreo entre ingleses e nazistas, agora confusos com o navio pirata no céu de Londres. Longe de ser o Canadá, aos olhos do pequeno herói a Terra do Nunca só parece deslumbrante à distância, porque o desembarque lá é acompanhado de um regime de escravidão nas minas controladas pelo vaidoso pirata Barba Negra (Hugh Jackman).

Aliando-se a peças-chaves da Jornada do Herói, o roteiro de Jason Fuchs não poupa em envolver Peter numa profecia revolucionária, acompanhados de personagens carismáticos com suas falas que poderiam ser mais cômicas, além do vilão bem apresentado, cuja interessante motivação, que até lhe dá uma breve camada de humanidade, se perde no decorrer do filme apenas para torná-lo um mero obstáculo para o herói e seus companheiros. Sem os colegas de quarto, Pan faz amizade com James Gancho (Garrett Hedlund), galante e habilidoso, desde já com medo de crocodilo, e a guerreira, mas serena, Princesa Tigrinha (Rooney Mara) dos nativos, que já não são constituídos apenas por ameríndios. Por sinal, a aldeia recebeu um design incrível, pra lá de colorido, combinando o malabarismo circense com elementos tribais em meio a floresta, que também não carece de cores.




Num ano em que o cinema de aventura decepcionou drasticamente por lançar filmes com conversões 3D pra lá de fajutas, a direção do inventivo Joe Wright consegue trabalhar muito bem com o recurso, enxergando a profundidade e destacando elementos durante toda a projeção, tornando a Terra do Nunca um cenário mais vivo e que proporciona entretenimento pontual, embora o excesso de drama, que vai e volta, e o clímax enfraquecido, que pouco lembra os reverentes duelos de espadas dos Piratas do Caribe, deixa cansativo o que poderia ser uma empolgante aventura do início ao fim. Pelo menos, a eclética e bela trilha de John Powell fortalece os melhores momentos.

Transformando a Terra do Nunca em um espaço quase atemporal, onde navios piratas têm letreiros neons na popa, lembrando a estética steampunk, e a mina de pixum se torna uma ópera rock, o lugar já não parece meigo como no clássico da Disney. Quanto ao seu ineditismo, Peter Pan fica devendo mais ousadia, todavia mantém seu jovem espírito escapista, mesmo que isso custe a acreditar.




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