segunda-feira, 11 de novembro de 2024

HEREGE – a gente acredita em uma coisa e ela se torna outra | CRÍTICA

 

Hugh Grant, Sophie Thatcher e Chloe East em HEREGE

Inflada de estética e aclamação, apesar de dividir o público com Longlegs recentementeA24 está de volta com mais uma fita que muitos diriam se tratar de uma narrativa de pós-terror, retardando sanguinolências em sua pretensão de um discurso mais intelectualizado com uma cinematografia extravagante. Herege, a trama da vez, recorre ao controle imposto pelas religiões para questionar e escancarar o mal causado por tais doutrinas.

Em seu exercício árduo de tornar o sempre carismático Hugh Grant em um vilão meticuloso, a dupla de diretores e roteiristas Scott Beck e Bryan Woods (que assinaram, inclusive, o roteiro de Um Lugar Silencioso) recorre a "inocência" de duas sisters mórmons, Barnes (Sophie Thatcher) e Paxton (Chloe East), para nos conduzir a uma visita apreensiva em uma casa de muitos mistérios em uma tática que, para um bom cinéfilo, remete imediatamente às tantas escusas de Norman Bates em Psicose, logo quando as duas só esperavam converter mais um fiel para a sua igreja. No entanto, Herege adota uma abordagem de jogo de perguntas e respostas cujo ritmo lento e até maçante compromete o interesse pelo que virá nos atos seguintes, por mais que, desde as suas prévias iniciais, já era difícil imaginar o que o filme tinha a oferecer.


Sophie Thatcher em HEREGE
(© A24/Diamond Films/Divulgação)


É admirável que o texto, misturando cultura pop (há menções desde Radiohead e Lana Del Rey a Star Wars) com teologia, nos apresente um raciocínio tão conveniente sobre a popularidade das doutrinas monoteístas (remontando do judaísmo ao islamismo e, daí, para os mórmons) em seu favorecimento patriarcal com exemplos que há de perturbar quem anda com a fé abalada – o que, de fato, é a proposta horripilante do Sr. Reed (Grant) em testar aquelas duas jovens incumbidas em crença. O elenco está ótimo em suas interações, mas, no fim das contas, todo o discurso vai se tornando uma grande chatice justamente por se estender em partes que se tornaram redundantes a ponto de a gente só querer que elas saiam daquela casa o quanto antes.


Chloe East em HEREGE
(© A24/Diamond Films/Divulgação)

Com material visual digno de pipocar nas redes sociais como acontece com quase todos os títulos da A24, daí o destaque óbvio para a transição da maquete-tabuleiro para a sala, além de certeiro em não apelar para sobrenaturalidades ou diabruras, pode-se dizer que Herege (Heretic, no original) tem uma produção requintada e acerta em sua construção de atmosfera, mas toda essa soberba no discurso do estúdio, tal como visitas de missionários na porta de casa, já está virando um engodo.




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