Por quanto tempo um personagem e suas franquias podem se manter vivas no imaginário popular? Dupla criadora de tantas histórias e personagens humanas e animalescas, William Hannah e Joseph Barbera divertiram gerações ao longo das décadas nas mais variadas das situações, mas é fato que boa parte de suas criações foram esquecidas ou cederam seu espaço para atrações de maior agrado para os mais novos. Seguindo o lançamento do longa animado Scooby!, ainda que se arriscando no campo do live action com animação, Tom & Jerry: O Filme encontra no apreço de seus realizadores uma nova chance para firmar o legado de Hanna-Barbera na cultura pop.
Cineasta habilidoso na mescla de ação com comédia, Tim Story (Quarteto Fantástico, Táxi) encontra na loucura ininterrupta de Nova York dos dias atuais a oportunidade repleta de conflitos para apresentar a dupla de gato e rato mais encrenqueira das telas. Longe do âmbito doméstico, Tom e Jerry passam fome e outros apertos, mas eles dão seus habituais jeitos de sobrevivência: o primeiro, se destaca como um bom músico de praça; o outro, só usurpa o sucesso do inimigo pra passar bem (o que só reforça a teoria popular de que o ratinho marrom sempre foi o vilão nas histórias). Sabendo da existência de um renomado hotel próximo ao Central Park, a dupla quer garantir as mordomias de sempre no recinto e esperam contar com a obstinada Kayla (Chloë Grace Moretz) para que isso se concretize, ainda que um extravagante casamento esteja marcado para acontecer ali dentro de alguns dias.
Chloë Grace Moretz e Michael Peña são funcionários do hotel onde Tom e Jerry deixam um rastro de bagunça. (© Warner Bros. Pictures/Divulgação) |
Ainda que a técnica de misturar atores e cenários reais com personagens de feições cartunescas não seja coisa recente (vide Uma Cilada Para Roger Rabbit, Space Jam e Sonic: O Filme) e, por vezes, vista com receio justificado, Tom & Jerry: O Filme chama a atenção por não querer forçar um visual realista para seus protagonistas, optando, assim, pelos traços habituais em composição e pintura tridimensionais de todos os animais em cena – desde pombos a cachorros e até elefantes. Desprendida da verossimilhança, a liberdade criativa rende inúmeros conflitos engraçados onde gags clássicas como dedos presos na janela, dentes quebrados e orelhas que servem como portas conseguem se misturar bem à era dos aparelhos digitais ao passo em que as tramas dos humanos se destaca mais pela miscigenação do elenco.
(© Warner Bros. Pictures/Divulgação) |
Entretenimento divertido o suficiente para nos servir de escapismo nesses tempos de confinamento, Tom & Jerry pode parecer um filme lançado a esmo só pelo fato de seus personagens serem originários de outra época, embora seu estilo de humor pastelão que apela para a violência não difere muito do que presenciamos em Minions ou similares. Da sua câmera bem conduzida que bem insere a animação nas locações reais, o filme merece elogios por não se tornar dependente de referências para ser engraçado e por sair da toca para, quem sabe (e como se vê nas sombras), armar uma nova era para outros queridos personagens Hanna-Barbera nas telonas.
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