terça-feira, 17 de setembro de 2024

GOLPE DE SORTE EM PARIS – um suspense inesperado | CRÍTICA

Niels Schneider e Lou de Laâge em GOLPE DE SORTE EM PARIS

Aos primeiros minutos de Golpe de Sorte em Paris, parte de mim entrou em uma certa crise de ansiedade ao constatar que Woody Allen, em seu primeiro filme totalmente falado em francês, estava trazendo para a tela mais um drama burguês com seus protagonistas de problemas frívolos e, ainda que tire muita graça disso, pouco da trama estava me interessando. Só que a trilha conduzida por um jazz muito do alegrinho escondia uma narrativa cada vez mais envolvente com o veterano cineasta investido em um suspense inesperadamente sombrio.


O roteiro de Coup de Chance (título original) nos leva a uma jornada de incidentes cotidianos, bem tipo novela das nove, em que Fanny (Lou de Laâge), uma galerista fadada a um casamento sistemático com o narcisista Jean (Melvil Poupaud), reencontra um velho amigo de colégio, Alain (Niels Schneider), que, além de escritor, enfim confessa sua paixão de adolescente pela moça. Os rápidos encontros encaixados na hora do almoço se tornam horas de amor que, há tempos, ambos desconheciam. Obviamente, por mais que Jean adore carregar Fanny e passar tempo com amigos casais de meia-idade de hábitos cafonas, o marido engomado não vai deixar passar batida essa traição, revelando ser um sujeito mais hostil do que aparenta.


Melvil Poupaud em GOLPE DE SORTE EM PARIS
(© O2 Play/Divulgação)

Paixão é algo evidente em todo o elenco, que muito aparenta se divertir com o texto de Allen, que também não se compromete na direção (ao contrário de outro veterano, Ridley Scott, por exemplo) e entrega um bom ritmo narrativo e astuto em seus enquadramentos, tornando a experiência cada vez mais a la Hitchcock (não por menos, há um adereço em cena que dá a dica disso). 


Valerie Lemercier em GOLPE DE SORTE EM PARIS
(© O2 Play/Divulgação)

Para completar, a direção de fotografia de Vittorio Storaro é, certamente, uma coisa de brilhar os olhos tamanho uso inteligente das cores laranja e azul que se tornaram marcas registradas na filmografia do fotógrafo em sua interpretação da narrativa que se faz um bom e longo respiro em uma época de cinema de color gradings super carregados ou preguiçosamente acinzentados. Atente-se, por exemplo, como os encontros de Fanny e Alain são sempre acalentadores enquanto todo o suspense crescente na casa de Jean tendo Camille (Valerie Lemercier) investigando a sujeirada do genro se torna uma sequência gélida de tão arrepiante.


Lou de Laâge em GOLPE DE SORTE EM PARIS
(© O2 Play/Divulgação)


À parte das sensações de "eu já vi isso antes", ainda mais em um filmografia de cinquenta títulos, Golpe de Sorte em Paris é um filme que conquista e fixa a atenção até os últimos minutos de seu ato final, provando-se imprevisivelmente divertido.


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