segunda-feira, 23 de setembro de 2024

O DIA QUE TE CONHECI – entre afetos e identificações | CRÍTICA

 


Comédia romântica brasileira traz o pertencimento como parte principal de sua narrativa.


A produtora Filmes de Plástico, situada em Minas Gerais, tem trazido algumas pérolas para o cinema nacional nos últimos anos, desde o potente Temporada até o fofíssimo Marte Um, conectando uma classe trabalhadora ao protagonismo das suas histórias.

O Dia Que Te Conheci é mais um exemplar dessa toada. Aqui acompanhamos Zeca (Renato Novais), um homem que tem problemas com o sono e trabalha em uma biblioteca escolar na região metropolitana de Belo Horizonte. Todos os dias Zeca percorre mais de 1h30 para chegar ao trabalho, isso quando consegue chegar ou quando não está atrasado. Na escola ele conhece Luísa (Grace Passô), uma funcionária da escola que se compadece da rotina do colega.



Diferente de vários filmes simples, nesse há um foco muito grande no pertencimento de cena de cada personagem. Se existem filmes brasileiros que podem ser consumidos pelo mundo todo, talvez esse seja uma exceção, mas isso não é demérito, justamente o contrário, seu maior êxito é exibir uma comédia romântica na forma mais brasileira possível. A rotina cheia de percalços, a forma de querer melhorar na vida e até mesmo as conversas comuns são extremamente identificáveis e poderiam ser em qualquer capital do país. 

Os diálogos e atuações naturalistas são perfeitos aqui, pois a câmera está ali apenas como um agente passivo das ações, quase transmitindo o que se passa, apenas se utilizando de linguagem cinematográfica para refletir as mensagens propostas. Ao mesmo tempo em que há simplicidade, o diretor André Novais Oliveira utiliza com maestria alguns recursos incomuns no cinema atual, como zooms pontuais que servem muito bem para as cenas de comédia do filme. 

O humor aqui também é muito bem dosado, nada está fora de tom, nem mesmo a atuação de estreantes como o rapper FBC, que está muito bem. 

Esse é daqueles filmes em que é tão gostoso acompanhar os personagens que quando o filme acaba você quer saber como eles estão, se eles deram certo ou quais serão os próximos passos na vida, não só os protagonistas, mas também de vários coadjuvantes, como o amigo inconveniente do busão ou se a aluna finalmente irá terminar de ler "O Pequeno Príncipe".



O roteiro é simples, porém, toca em temas muito sérios e os retrata de forma profunda, como as abordagens sobre problemas da administração pública, saúde mental e precariedade do trabalho. E aqui residem os pontos principais de identificação e pertencimento, pois todos que não nasceram em berço de ouro conhecem os dramas vividos pelo protagonista. 

O Dia Que Te Conheci é tão prazeroso de se assistir que os 71 minutos passam voando e deixam um gostinho de quero mais, mesmo sabendo que não precisamos desse "a mais". 

A comédia romântica mais interessante do cinema nacional em muito tempo é composta de personagens maravilhosos que vou guardar por muito tempo no coração.


Confira o trailer:



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