sexta-feira, 26 de maio de 2017

Punhos de Sangue | CRÍTICA


Por mais sangrentos, ardilosos, deprimentes e previsíveis que sejam, ainda há algo nos filmes de boxe que os tornam devidamente fascinantes e que vão além de suas atuações dedicadas e tramas com mensagens motivacionais. No round da vez, Punhos de Sangue se volta ao retrato de um pugilista real cuja fama se sustentou por sua longa luta contra Muhammad Ali e, como vem a ser revelado aqui, por se tornar inspiração para aquele que fez de seu filme um marco para o cinema e modelo prolífico para seu gênero.

Dirigido pelo canadense Phillipe Falardeau (Uma Boa Mentira), o filme apresenta Chuck Wepner, um vendedor de bebidas e boxeador de Nova Jersey que ganhou a alcunha de "The Bayonne Bleeder" por justamente sangrar no ringue, o que não quer dizer que sempre saia perdendo nas suas lutas. Interpretado com dedicação por Liev Schreiber, que também produz e co-roteiriza com direito a uma narração carismática pelo próprio, acompanhamos o sujeito por sua cidade em momentos específicos de sua carreira na década de 1970, passando de um pai de família e um apaixonado poeta pela esposa, Phyllis (Elisabeth Moss, da série Mad Men), até saber por seu treinador (vivido por Ron Perlman) que ele viria a ser desafiado pelo lendário Ali. 15 rounds depois e com uma derrota nas mãos, Wepner sente o gosto do sucesso por ter derrubado seu adversário (uma vez, pelo menos) e, deste repentino e relativo estrelato, passa a adquirir hábitos ostensivos, um vício por cocaína e olhar mais de uma vez para outras mulheres. Fazendo das falas de Anthony Quinn em Réquiem Para Um Lutador quase como um mantra diário, é assistindo ao Rocky protagonizado por Sylvester Stallone que "The Bleeder" enxerga sua própria vida ficcionalizada no cinema, fazendo do filme sua maior obsessão ao mesmo tempo em que a relação com sua família persiste em ruir.



Com uma produção caprichada que recria os hábitos e locais da época dentro dos limites, é admirável como tal composição se mescla com o bem acertado uso de imagens de arquivo e canções recorrentes daqueles anos, com a fotografia acentuando ora o amarelo ora o vermelho do bar e o esfumaçado dos cenários internos, sem se esquecer da gradativa palidez dos ambientes externos, onde feixes solares dão lugar aos desesperançosos tons de cinza dos dias nublados. Apesar destes pontos positivos, a narração consecutiva acaba fazendo um resumo geral da vida do protagonista nos anos abordados, deixando de desenvolver os personagens presentes dentro das cenas e assim perdendo a oportunidade de criar um elo maior de empatia com o espectador. As atuações são honestas, mas é lamentável que Naomi Watts só tenha alguma relevância no ato final.



Não espere de Punhos de Sangue (The Bleeder) um filme de boxe com extensas cenas de lutas no ringue onde haverá um vencedor de rosto machucado no final, ou ainda uma mensagem sobre aprender com os erros cometidos na vida. O longa procura investir num estudo de seu personagem, mas, em sua abordagem automática, carece da mesma intensidade dramática de seus consagrados similares nos quais se espelha, ficando seus melhores momentos quando investe numa metalinguagem simples, divertida e mais próxima do público. Afinal, quem nunca se emocionou ao se ver representado ou se identificar com uma história em tela, cultuar tal produção a ponto de não se cansar de assisti-la e decorar seus diálogos, pendurar seus pôsteres na parede e ainda comemorar pelos prêmios faturados?




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