sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Planeta dos Macacos: A Guerra | CRÍTICA


Paira um certo estigma negativo toda vez que os grandes estúdios insistem em sequências, derivados, reboots, remakes e até filmes de origem de franquias que há muito estão no imaginário popular ou que, apresentadas recentemente, tentam firmar sua posição no apreço do espectador. Entre casos de sucesso e fracassos (em maioria), a repaginada de Planeta dos Macacos correu por fora desde o seu A Origem (2011) e, com uma expressiva evolução vista em sua continuação (O Confronto, 2014), demonstrou uma identidade própria que não feriu o legado lançado há quase cinquenta anos e agora, em seu derradeiro e melhor capítulo, coloca os símios como os verdadeiros protagonistas de uma diáspora de emoções mistas e autênticas.

Planeta dos Macacos: A Guerra começa entregando o que o seu subtítulo promete em uma execução magistral que tende a se repetir até sua cena final, sempre se utilizando do melhor da linguagem cinematográfica e, dessa forma, propondo reflexões convenientes como é de praxe em toda boa ficção científica. Mais uma vez, o bando de César (Andy Serkis) encontra-se acossado pelos humanos, ou especificamente, militares enviados pelo obstinado Coronel (Woody Harrelson) que quer aniquilar o líder primata a qualquer custo, crente de que foram os macacos os principais responsáveis pela quase total erradicação da população humana mundial afetada pela "gripe símia" que, por sua vez, persiste em surtir efeito. Com a morada há muito visada pelos inimigos, só resta a César, Maurice (Karin Konoval) e os outros tantos macacos, partir para uma nova terra distante de qualquer perigo; um plano que, todavia é postergado quando César é abalado intimamente e, ao ver o seu bando ser raptado pelas forças do Coronel, o inteligente chimpanzé passa a questionar os valores que pregava até então a ponto de enxergar as atitudes do velho adversário Koba (Toby Kebbell) como sensatas, mas a estrada congelante irá prover a ele e a seus companheiros uma revisão sobre alteridade ao conhecerem uma menina muda (Amiah Miller) e o Macaco Mau (Steve Zahn) que, apesar do nome e do passado sofrido num zoológico, acaba apresentando e acrescendo um bem-vindo humor positivo ao grupo.



Co-escrito por Mark Bomback e pelo diretor Matt Reeves, o roteiro de A Guerra surpreende por se ater na exploração de elementos visuais e tende a recorrer a diálogos em último caso, por mais que a língua de sinais seja uma constante entre os símios e César já tenha um domínio maior da fala. Menções honrosas também para o desenvolvimento multifacetado das personagens, onde macacos temem pela própria morte e não hesitam em ser burros-de-carga daqueles que, aparentemente, estão ganhando nessa batalha – homens e mulheres igualmente desesperados para sobreviver e preservar sua sanidade. Bomback e Reeves também não se esquecem de dar mais espaço para o ótimo orangotango Maurice que, sendo uma das cabeças mais pacientes do grupo, encanta por seu olhar bondoso e pela relação que constrói com a garota Nova. E, se nos filmes anteriores Andy Serkis já fazia uma atuação comumente excepcional entregando muito mais que seus movimentos, abraça com paixão o seu arco dramático e faz de César um personagem interessantíssimo com o bom texto em mãos, uma vez que os efeitos visuais de composição dos macacos é tão bem feito que já parece natural aos olhos.

Nomeado para dirigir o próximo filme solo do Batman, Matt Reeves entrega uma direção digna de nota e que faz jus à escolha, agora acertadíssima. Muito além do seu domínio na condução das cenas de ação que já vinham se destacando no segundo longa, Reeves preza por composições visuais que vencem por seu significado e não apenas por sua estética, deleitando-se no uso do desfoque como artifício narrativo e em closes por vezes longos, porém necessários, para transparecer toda a carga de emoção contida nos olhos de macacos e humanos. O diretor também é ávido em preservar o silêncio das locações e a trilha de Michael Giacchino, novamente inspirado em criar músicas de instrumentação mínima tal como se parecia fazer lá na década do Planeta dos Macacos original, aguça o clima de guerra com toques tribais sem deixar de executar uma melodia que reverbera o constante sentimento de tristeza que assola a maior parte da narrativa.



Ainda que algumas passagens se tornem cansativas por reiterar toda a aflição sentida pelos macacos e que uma guerra final encontre uma resolução catastrófica, Planeta dos Macacos: A Guerra (War For The Planet Of The Apes) não poderia ter encerrado a trilogia de forma melhor senão a que se apresenta aqui: uma narrativa que instiga pelo seu retrato pessimista da humanidade e sua ganância interminável, mas com um enredo que jamais se deixa ser totalmente sisudo. As doses de humor vêm na hora certa e divertem sem prejudicar o mote da experiência, rica também em propor referências de outros filmes e outros assuntos, como a imposição de um muro construída por outras mãos. Bem empregando sua analogia ao Êxodo e considerando todos os seus notórios atributos, este terceiro Planeta dos Macacos deveria servir de exemplo para tantas outras marcas que tentam dominar o mercado cinematográfico que, infelizmente, insistem na superficialidade e num discurso balbuciante.



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