quarta-feira, 16 de maio de 2018

Deadpool 2 | CRÍTICA


Nem mesmo apelando para a despedida de Hugh Jackman em Logan a Fox conseguiu alcançar a mesma proeza que Deadpool fizera em sua estreia oficial nos cinemas, tornando-se dono do posto de filme mais lucrativo da franquia X-Men com folga e sem apelar para sessões 3D. De 2016 até então, o mercenário tagarela cresceu no gosto do público e finalmente fez o estúdio acordar para explorar outros personagens que ainda tem em mãos antes que os conhecidos mutantes comandados pelo Prof. Xavier já não sejam cinematograficamente interessantes, afinal, debochar de outros filmes de super-heróis e de personalidades e fatos esquecidos da cultura pop se tornou bem mais lucrativo do que qualquer empreendimento em aventuras heróicas que são cada vez mais levadas a sério. 


Inevitavelmente, isso também acontece com Deadpool 2, que não perde a deixa para dobrar tudo o que funcionou em seu longa original (e outras coisas que deveriam ter ficado por lá mesmo) entre um irregular veio melodramático que, se era para ser outro elemento de tiração de sarro, acaba prejudicando todo o compasso do que poderia ser um exímio filme de ação, ainda mais que o diretor David Leitch tem se tornado uma referência quando se trata em filmar pancadaria (especialmente se formos considerar John Wick: De Volta ao Jogo e Atômica). Assim, Deadpool 2 tem muito mais linguagem chula, violência gráfica, mutilações explícitas, consumo de drogas ilícitas, o mesmo tipo de gag com a Cega Al (Leslie Uggams), além de personagens novos e bons ou propositalmente desinteressantes, provendo um espaço para a mitologia dos X-Men crescer enquanto Ryan Reynolds, crente de que o sucesso do personagem muito e exclusivamente se deve a ele próprio, extrapola os limites de seu timing e tenta fazer de Wade Wilson/Deadpool um personagem emotivo tal como um combatente nato. No final das contas, porém, o mercenário chega a ser tão irritante quanto o garoto que jurou proteger da mão cibernética de Cable (Josh Brolin), o esquentado Russel (Julian Dennison).

20th Century Fox/Divulgação)

Escrito por Rhett Reese, Paul Wernick e Ryan Reynolds (também coprodutor do longa), de fato, Deadpool 2 por vezes se vê tentado a construir uma narrativa de maior tragicidade a presumir pela motivação autodestrutiva do protagonista considerando a cena inicial e em outros momentos subsequentes, culminando em momentos etéreos soltos pela projeção que parecem alheios para um personagem que, apesar de seu gosto duvidoso por músicas românticas, enxergaria tudo isso como pura bobagem em outras produções – novamente, o texto é afiado em caçoar seu próprio universo mutante, sem se esquecer de algumas tiradas com os filmes da DC (previsíveis, entretanto…) e do Marvel Studios, não poupando nem uma canção de ninar e o Titã Louco de Vingadores: Guerra Infinita. Entre tantos acessos de déficit de atenção narrativo, é uma pena que Cable não tenha o mesmo desenvolvimento de personagem que Josh Brolin teve com Thanos ainda mais com todo o alarde feito sobre a presença do mutante do futuro na continuação, podendo desapontar os fãs dos quadrinhos que terão de se contentar com um típico arco de vingança. No entanto, com o pouco que tem em mãos, o ator faz milagres e imprime uma carga dramática crível ao mesmo tempo em que se satisfaz em ter cenas de ação práticas.

20th Century Fox/Divulgação)

Embora o sadismo de Deadpool com vilões e a versatilidade sexual com a namorada Vanessa (Morena Baccarin) já não seja uma surpresa, é divertido acompanhar o protagonista em suas estadias na mansão dos X-Men, na Geladeira e a formação e batismo da X-Force, entregando talvez a melhor passagem do longa com a missão dos novatos enquanto apresenta Zazie Beets como a sortuda Dominó e rompe expectativas vide a consecução da tarefa (e o mistério por trás da escalação de um membro da equipe). Como se somente isso não valesse o ingresso, a abertura bondiana com tema cantado por Céline Dion, a hilária implicância com um suposto plágio de Frozen com uma canção de Yentl, Cher e sacada em colocar 'If I Could Turn Back Time' nos créditos finais somadas às queixas metalinguísticas sobre a construção do roteiro e suas falas pobres típicas do gênero de ação são pontos de lucidez diante de tanta verborragia vulgar e efeitos visuais que nem sempre são de ponta.

20th Century Fox/Divulgação)

Apesar de não conter toda a irreverência que fazia o filme de 2016 ser suficientemente divertido por sua escrachada modéstia e que várias de suas piadas devem funcionar para aqueles que se racham de rir com qualquer besteirol repetitivo, além de que Ryan Reynolds é tanto um herói quanto um vilão para o funcionamento da própria realização, ainda assim, Deadpool 2 nutre a confiança de seu público quanto ao futuro dos Filhos do Átomo nas telonas sem impreterivelmente precisar ser uma propriedade Marvel Studios.

Nisso, tanto produção quanto personagem não dão o braço a torcer. Ao surgir no primeiro plano da projeção fumando um cigarro, a clara afronta de Deadpool ao império Disney é mais do que suficiente para provar que, às vezes, o "politicamente incorreto" e transgressor é o que abstrai as audiências de sua polida mundanidade.



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