quinta-feira, 8 de março de 2018

O Passageiro | CRÍTICA


Outrora designado a representar os mais variados tipos de mentor em franquias bastante conhecidas do público, Liam Neeson viu sua carreira tomar uma nova e surpreendente guinada como protagonista de filmes de ação que não economizam em violência, rendendo aí uma trilogia para o sucesso Busca Implacável e outros títulos similares, como Sem Escalas Noite Sem Fim, ambos dirigidos por Jaume Collet-Serra (também de A Órfã e Águas Rasas). No final de 2017, veio um anúncio que colocou seus apreciadores em leve tristeza: Neeson sugeria uma aposentadoria desses filmes de pancadaria, mas tão logo voltou atrás (tal como Jackie Chan fizera o mesmo) dizendo que fora um mal entendido, sem deixar de destacar sua disposição nada hesitante em seguir atuando em tais produções. Agora, na quarta colaboração com o diretor catalão, prova porque o ator irlandês ainda é uma força carismática e competente para o gênero de ação.

Em termos de performance, O Passageiro não exige muito de Neeson: cá está ele vivendo Michael MacCauley, um honesto pai de família que toma o trem para Nova York todos os dias para lá trabalhar como vendedor de seguros, para então voltar de trem, revendo e conversando com os passageiros e funcionários já conhecidos de uma década. Rotina esta que é drasticamente alterada a partir do dia em que Michael é demitido da empresa, vê ex-colegas policiais virando capitães, perde o celular e, muito por acaso, uma enigmática mulher chamada Joanna (Vera Farmiga) propõe um desafio que pode render uma quantia de cem mil dólares ao mais novo integrante da taxa de desempregados do país; algo deveras tentador uma vez que ele e a esposa planejam hipotecar a casa para garantir a universidade ao filho único. Diante de pistas obtusas, Michael não acredita que o que está em jogo é algo crescente em sua seriedade e perigo, especialmente quando Joanna ameaça por em risco a família MacCauley. Sim, novamente Liam Neeson tem em mãos um personagem com histórico de habilidades marciais que não mede esforços para salvar sua família e, paralelamente, todos os demais passageiros (apesar de suas inúmeras suspeitas sobre eles) do trem – só faltou mesmo recitar o monólogo icônico do primeiro Busca Implacável.


A partir do roteiro dos novatos Byron Willinger & Philip de Biasi com Ryan Engle (de Sem Escalas e do vindouro Rampage), Collet-Serra aproveita para o que adora fazer nesse tipo de filme, desenvolvendo todo um jogo de suspense inteligente onde cada informação e cada detalhe em personagens e objetos em cena podem render pistas potenciais para o atônito Michael (e para a curiosidade do espectador), tornando a narrativa bem mais interessante do que o trôpego A Garota no Trem. Com uma edição a ritmo progressivo e um tanto quanto maneirista (vide a desnorteada sequência introdutória com vários lapsos de tempo), o diretor não se esquece de atribuir um certo humor para a história entremeado com uma violência gráfica que se multiplica com o passar da projeção, rendendo boas e cenas de ação que tem seu melhor momento em um plano-sequência competente por sua extravagante movimentação de câmera e uma inventiva coreografia de luta que impulsiona a tensão e favorável a sua imprevisibilidade.


Porventura fosse mais formalista tal como os grandes filmes assinados por Alfred Hitchcock,  o que faz sua relativa falta de disciplina passar a impressão de ser uma mescla tresloucada de Festim Diabólico com Trama Macabra, e que muito do seu suspense seja erroneamente resolvido por diálogos ao invés da ação, O Passageiro (The Commuter) pode estar longe de ser um exímio thriller a ponto de ser uma referência do gênero, mas só por sua boa tentativa de aplicar os fundamentos deste e por proporcionar uma aventura urbana em que abraçar o exagero é a melhor solução por uma maior diversão, já vale a sua conferida.



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