sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O Lamento | CRÍTICA


O novo filme do diretor Na Hong Jin, que ganhou reconhecimento internacional com seu primeiro longa, O Caçador (2008), O Lamento (Goksung, no original) é um terror atmosférico fundamentalmente construído pelo visual do noir coreano. Marcado pela ideia de uma entidade maligna sem definição exata, o roteiro imersivo é um bom exemplo de como desenvolver múltiplas verdades em prol da confusão e incerteza angustiantes – a história é torcida e retorcida por diversas vezes ao longo das exageradas duas horas e meia de duração do filme, o que também causa uma sensação de emaranhamento dramático, principalmente pelo fato de ser uma fusão quase sobejante de gêneros do medo.


Na trama, Jong-goo (Kwak Do-won) é um policial meia-boca que está investigando uma série de casos de assassinato num pequeno vilarejo. Com características ritualísticas, as vítimas são encontradas com marcas e manchas estranhas, enquanto os assassinos acabam morrendo misteriosamente logo em seguida. O real problema de Jong-goo começa quando ele descobre que sua própria filha, Hyo-jin (Kim Hwan-hee), que começa a ter comportamentos duvidosos, é uma vítima em potencial. O oficial, então, suspeitando do novo japonês da vizinhança, interpretado pelo fatalmente surpreendente Jun Kunimura, inicia uma jornada caótica – e sangrenta – para salvar sua filha do mau, seja ele qual for.



Sem apelar a jump scares, O Lamento ultrapassa o terror óbvio com um enredo imprevisível e bem executado, com uma manutenção bastante coerente da tensão e ritmo dramáticos, alicerçados a um conjunto visual-sonoro muito funcional, introduzindo minuciosamente o espectador àquela vila coercitiva, sempre apresentada em tons frios, sustentada por uma trilha sonora que conhece o impacto do silêncio pontual e a potencialidade dramática da ambiência.

Todavia, por questões culturais, as atuações podem incomodar o público brasileiro pelos trejeitos exagerados dos atores, quase que novelescos e inverossímeis. Mas não é o choque cultural que prejudica a experiência fílmica. Na Hong-Jin fez mais um bom trabalho, aliando a evidência da beleza do horror à funestidade do belo. Apesar de exigir certo esforço pra se chegar ao fim, é um ótimo filme pra quem conhece o cinema coreano; e melhor ainda para quem quer conhecer.






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