sábado, 7 de janeiro de 2017

Moana - Um Mar de Aventuras | CRÍTICA


Navegar é preciso. Recitada pelos poetas Petrarca e Fernando Pessoa em períodos distintos da História, tal frase se molda literalmente em Moana - Um Mar de Aventuras. Descendente de uma linha de chefes de uma ilha na Polinésia, desde pequena Moana sempre foi ouvidos para os contos de aventuras contados por sua avó sobre antepassados que navegavam pelos mares sem temer – a rotina e o status do principado, tão onipresente na maioria das produções da Walt Disney Animation até então, sempre pareceram enfadonhas para a garota (embora nunca deixou de cumpri-las por motivos de empatia com seu povo). Quando o Oceano lhe faz o chamado da aventura, portanto, Moana não hesita e nos apresenta uma jornada marítima que fascina e edifica sentimentos e, por sua vez, o estúdio traça rumos inéditos para seguir contando ótimas histórias.

Passando pelas mãos de sete argumentistas antes de chegar ao tratamento assinado por Jared Bush (Zootopia), o roteiro de Moana faz mais do que apenas introduzir uma nova protagonista de etnia distinta no panteão de personagens da Disney com músicas em tom ascendente ou um produto apenas para meninas (um pensamento pra lá de retrógrado que, infelizmente, circula por aí). Dos habituais coadjuvantes e criaturas carismáticas que circundam a protagonista, rendendo sempre bons momentos e gags ao filme, a jovem que passamos a acompanhar mar afora se proclama autodidata quando perguntada se sabia velejar, é amável com a família e com os mascotes Pua e Heihei (ótimo), é resiliente diante das intempéries da Natureza. Contudo, Moana está longe de ser perfeita, aproximando-nos ainda mais da personagem quando ela se mostra tão próxima de desistir de suas ambições ao ser conivente com a amargura ou insegurança alheia.



O que nos leva a Maui. Com a voz e o carisma original de Dwayne "The Rock" Johnson, o orgulhoso semideus nos diverte com a sua teimosia caricata ao mesmo tempo em que nos impressiona (ou nos faz rir, de novo) quando tem em suas mãos o Anzol que, por sinal, é a fonte dos poderes que tanto originou as lendas ouvidas por Moana a vida inteira. Acertando em jamais posicionar a dupla como um par romântico, a relação dos dois toma forma a cada desafio imposto em alto-mar e que só cresce em escala, dando a cada personagem seu momento de brilhar até alcançar uma cooperação bem coreografada pela equipe de animação em um conflito final que também faz exceção à regra. A única ressalva, porém, fica para as cenas envolvendo o caranguejo Tamatoa e pela música mais fraca da trilha, o que não quer dizer que a sequência não impressione pela sua qualidade visual.

Dirigido pelos veteranos Ron Clements e John Musker, Moana não só inova em muitos aspectos, mas também resgata os melhores atributos que a dupla já tirava de letra desde A Pequena Sereia, Aladdin e Hércules. Do espírito jovial e ágil onipresente em toda a narrativa, das cenas de fuga ou batalhas sempre alcançando proporções épicas, os ecos do passado se refletem em elementos semelhantes como a onda que nunca deixa a garota afundar ou as tradicionais músicas de início de jornada cantadas com entusiasmo, as comparações são deixadas de lado quando o primeiro trabalho de animação 3D dos diretores surpreende por seus mínimos e ricos detalhes além do conforto proporcionado pela paleta de cores da fotografia. Cada grão de areia é sentido quando o remo é fincado e os fios dos cabelos cacheados das polinésias dançam ao toque da brisa quente.



Assim visto no enredo da ficção, é como se Clements e Musker também partissem numa jornada pessoal para resgatar a energia vital das animações sem desprezar o que é novo. Embalado com a ótima trilha sonora assinada por Mark Mancina, Lin-Manuel Miranda e Opetaia Foa'i, cujos acordes e letras são contagiantes já na primeira audição, Moana prova-se uma obra completa e superior ao popularizado Frozen, entregando aos espectadores de todas as idades uma aventura fantástica e afável, do jeito que costumávamos assistir há tantos anos sem enjoar.



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