domingo, 17 de julho de 2016

Stranger Things (1ª Temporada) | CRÍTICA


A Netflix vem acertando em suas séries, principalmente neste ano de 2016, onde conseguiu colocar House of Cards de volta à qualidade que possuía em seu segundo ano, mostrou que a prisão de Orange Is the New Black não é um lugar totalmente romantizado, e trouxe a melhor versão do Justiceiro fora dos quadrinhos em Demolidor. Agora, com Stranger Things, nova série de J. J. Abrams Ross Duffer e Matt Duffer, que assumem o roteiro, a produção e a direção de alguns episódios ao lado de Shawn Levy (Gigantes de Aço, Uma Noite no Museu), o canal de streaming aposta no suspense resgatando o clima da cultura pop e dos filmes de aventura e terror da marcante década de 80, sem deixar de mostrar sua identidade própria.

Situada no ano de 1983, Stranger Things gira em torno do desaparecimento de Will (Noah Schnapp), que afeta sua família, amigos e toda a cidade de Hawkins, em Indiana, afinal, o único desaparecimento no lugar aconteceu ainda na década de 1920. Enquanto sua mãe, Joyce (Winona Ryder), e seu irmão, Jonathan (Charlie Heaton) tentam entender o que está acontecendo, seguindo as poucas e incrédulas pistas que encontram, o inseparável grupo de amigos formado por Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo) e Lucas (Caleb McLaughlin) partem em busca de seu amigo desaparecido, mas acabam encontrando uma misteriosa garota, Eleven/El/Onze (Millie Bobby Brown), que revela ter habilidades misteriosas, como o Prof. Xavier dos X-Men. 


O primeiro episódio de uma série sempre tem o papel de inserir a temática do seriado ao espectador e apresentar seus plots que serão desenvolvidos durante seus episódios até o series finale, e Stranger Things faz isso de uma maneira incrível, apresentando em seus minutos iniciais o mistério executado melhor do que muitos filmes do gênero. A produção consegue puxar toda aquela sensação dos anos 80 com suas locações oitentistas e sua trilha sonora feita com sintetizadores, muito parecida com músicas de jogos de Atari, como Tetris e Pac-Man. O trio de garotos principais lembra muito o perfil da turma de Os Goonies (de 1985) e o encontro deles com Eleven lembra E.T. (de 1982), puxando bastante para a nostalgia. Esses e vários outros filmes são vistos como  inspiração ao decorrer da série, seja por seus diálogos e problemas que as personagens passam, implícitos nos pôsteres de filmes afixados nos cenários. O primeiro é de O Enigma de Outro Mundo (The Thing, de 1982) que aparece várias vezes ao longo do seriado e faz uma alusão muito boa a própria “coisa” da série. Já o cartaz de Tubarão (Spielberg novamente) aparece em um momento que “a coisa” pode aparecer de qualquer lugar, você não sabe da onde ela pode surgir, assim como no clássico de 1975.

A química entre os garotos funciona bem logo no inicio, quando estão jogando RPG de mesa, o que aproxima ainda mais o público jogador que pode se identificar nesse grupo de meninos nerds fãs de Star Wars, de quadrinhos como X-Men e livros como O Hobbit (ou O Senhor dos Anéis) que são referenciados várias vezes – em especial, o livro de Tolkien,  homenageado de uma maneira divertida desde o “apelido” para uma floresta, senhas, assim como explicações para outras dimensões e portais. Enquanto o “Capítulo Dois: A Estranha da Rua Maple” se preocupa em explorar e unir seus núcleos de personagens, que acabam tendo algo em comum “graças” à coisa estranha que circunda a cidade, aqui os roteiristas tratam de introduzir os elementos sobrenaturais gradativamente sem parecer exagerado (algo recorrente em tantas séries semelhantes), amplificando a experiência a cada capítulo, deixando o clima ainda mais envolvente. Quem diria que os poderes mágicos recitados pelos garotos na sessão de 10 horas de Dungeons & Dragons pareceriam desinteressantes diante de tantas “anormalidades” fascinantes e temerosas.


As atuações estão boas, ainda mais levando em conta que metade do elenco são crianças, que surpreendem em seus papéis. Caleb, Gaten e Finn tem Stranger Things agora como o principal trabalho do inicio de suas carreiras. Noah Schnapp (Snoopy & Charlie Brown), que aparece em poucos momentos devido ao seu desaparecimento inicial, surpreende nessas poucas cenas. O destaque do elenco infantil fica com Millie Bobby Brown, atriz espanhola que começou sua carreira no péssimo Once Upon a Time in Wonderland como a jovem Alice, mas, graças a isso outras pontas em séries como Modern Family e Grey’s Anatomy, o que a levou a Stranger Things, onde consegue brilhar como El, fazendo o espectador sentir grande empatia por ela, pois a personagem possui uma inocência que emociona ao decorrer da série. Sua relação com Will é bem explorada (apesar de sua relação com Waffles ser melhor trabalhada) sendo um dos melhores atrativos da série.

O maior nome do elenco, Winona Ryder (não por menos, uma das musas da década retratada ao estrelar filmes de Tim Burton) entrega uma bela atuação, encarnando uma decadente mãe solteira que encontra nas luzes uma esperança para encontrar o filho mais novo. David Harbour, que participou das brilhantes três temporadas de The Newsroom (e estará em Esquadrão Suicida no começo de agosto), faz Hopper, um delegado que até começa como o estereótipo de policial amargurado, mas seu ótimo desenvolvimento permite uma evolução a cada episódio, revelando mais sobre suas dores pessoais e, assim como Winona, entrega ótimas sequências no episódio final.


Com movimentos de câmera e aproximações que vão passando a tensão e o suspense dos personagens aos poucos, a direção dos irmãos Duffer conseguem criar um leve terror eficiente. A série apresenta alguns jumpscares, mas isso não atrapalha, ele tem a medida certa disso e a edição das cenas acerta, os cortes são certos e não enrolam a ponto de a tensão criada ser perdida por enrolação ou aliviada com alguma piadinha. Tratando em especial da direção e edição do último episódio (o melhor da temporada), que conseguem conectar muito bem uma cena a outra, deixando fluir o episódio final de maneira incrível. A direção de fotografia merece seu destaque, dando um leve tom sombrio a série, e as várias sequências com as luzes piscando estão boas, despontando também como um artifício narrativo emocionante.

Stranger Things é, com certeza, um dos melhores lançamento deste ano e forte candidato a um dos maiores sucessos da Netflix, com seus oito episódios de 40 minutos em média, ela te transporta para os anos 80 e entrega uma história interessante com muito suspense, momentos divertidos e nostálgicos, personagens carismáticos e uma fotografia digna de grandes produções cinematográficas, desprezando episódios fillers que nada acrescem à trama, como os exaustivos 23 episódios novelescos de Flash e Arrow. E, como toda série (pelo menos a maioria), ela consegue fechar o arco de suas personagens deixando cliffhangers para uma possível segunda temporada. Agora, o negócio é esperar mais um ano até a Netflix lançar seu segundo ano com mais boas “coisas estranhas”.




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