quarta-feira, 30 de março de 2016

Casamento Grego 2 | CRÍTICA


No filme original, a grande família grega Portokalos deixou bem claro que, ao contrário do costume das famílias estadunidenses, ter os filhos por perto e vê-los se casando, assim como tendo filhos, é mais importante do que lhes dar a oportunidade de seguir o próprio rumo e tomar as próprias escolhas. Pioneira na ruptura dessa longínqua (e machista) tradição, Toula (Nia Vardalos) se casou com o xeno Ian Miller (John Corbett) e, do fruto dessa união, veio Paris (Elena Kampouris), uma adolescente ansiosa pela faculdade – e para ficar longe dos costumes bizarros da família. Para Toula, tudo parece um grande karma; para nós, espectadores, parece que fomos convidados para um Casamento Grego não muito diferente do que já foi visto e rido.


Novamente escrito por Vardalos, Casamento Grego 2 (My Big Fat Greek Wedding 2) inicialmente dá a entender que é a vida nupcial de Paris que estará em jogo, afinal, seu avô Gus/Costa (Michael Constantine) lhe diz as mesmas coisas que falou para Toula há muitos anos, com a diferença de constranger a menina entre os primos não só ali no carro, mas por onde quer que vão. Mas a atriz e roteirista evita a gafe de desconstruir todo o trabalho de sua personagem no longa original, o que seria inverossímil tratar Paris aqui como submissa logo quando mais garotas almejam a independência financeira e de pensamento nos dias atuais. Apresenta-se, então, um desgaste no casamento de Toula e Ian, motivado pela falta de tempo dado a extensa dedicação que ela confere aos pais que, por sua vez, descobrem que seu casamento de cinquenta anos nunca esteve, de fato, legitimado pelo padre na época. Como esses gregos não perdem uma festança, um novo casório será organizado e boa parte das manias a gente conhece bem, inclusive as piadas, como as diversas gags visuais da Mana-Yiayia (Bess Meisler).



Se Casamento Grego 2 parece um típico filme-família, talvez não devêssemos esperar um texto inusitado ou desbocado, a princípio, ainda mais quando intenção de Vardalos e do diretor Kirk Jones (do primeiro Nanny McPhee) preza pela simples descontração. Das situações que cumprem sua função de divertir ao apelo em dar um destaque mínimo para cada personagem que aparece em cena, até mesmo a chegada de Mark Margolis (o Tio Salamanca de Breaking Bad e Better Call Saul) como o irmão de Gus que ficou na Grécia, o diretor e a roteirista tratam os conflitos de forma muito fácil, sem ao menos querer se aprofundar no que é sugerido. A questão do relacionamento de Toula, um tópico que deveria ter um pouco mais de ênfase (afinal, sempre estivemos ao lado dela), fica na passividade e num amor automático, ainda que seria interessante ver como esta tradicionalíssima e religiosa família grega lidaria com a palavra "separação".

Das piadas e ações que pararam no tempo, reflexo da inspiração de Vardalos pelas sitcoms da década de 1990, tudo termina em conjunto e festa, ficando mais do que óbvio os ganchos para uma continuação. Entretanto, há de se levar em consideração o que Maria (Lainie Kazan) reflete antes de subir ao altar, o rompimento de sua assertividade em prol de constituir uma família. O vício de Costa em querer explicar a todos que tudo teve suas origens na Grécia começa no fato omitido de que as mulheres dificilmente tiveram a chance de se expressar ou realizar grandes feitos nesta longa e paternalista herança milenar.




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