domingo, 21 de fevereiro de 2016

O Lobo do Deserto | CRÍTICA


Nos idos da Revolta Árabe, por volta de cem anos atrás, a Jordânia passava por um período de transição em meio ao cenário da Primeira Guerra Mundial. Enquanto a linha do trem cortava o cenário desértico da região e árabes lutavam contra os otomanos, havia nos arredores de Hejaz uma tribo de beduínos que mantinha seus costumes primitivos e, um de seus filhos, o curioso garoto Theeb (Jacir Eid Al-Hwietat) se encaminha para a (precoce) vida adulta. Com o irmão Houssein, ele aprende a atirar, retira água do poço, sacrifica animais e outras atividades executadas por um beduíno-homem, mas essa rotina seria interrompida com a chegada de um gringo ao acampamento. A civilização do Ocidente alcançava aquele reduto intocado e, dado o chamado para a aventura, os pés descalços de Theeb o levariam a trilhar sobre um mundo diferente – e não menos cruel.

Sendo o primeiro longa do diretor Naji Abu Nowar, a co-produção da Jordânia, Inglaterra, Qatar e Emirados Árabes Unidos passa longe de ser um épico, mas não é isento de passagens interessantes. Durante a cansativa jornada pelo deserto acompanhando o apático inglês vivido por Jack Fox, Theeb nos guia por locações fantásticas e em uma aventura que, se fosse melhor escrita, quem sabe seria adicionada ao tomo de "Mil e Uma Noites", até porque parece trazer um ensinamento ao protagonista (e a nós mesmos, se ainda existir paciência até o final da projeção). Das transições com uma trilha sonora breve, mas impactante, e destaco aqui o bem pensado raccord em que Theeb contorna as fendas do arenoso solo, para em seguida vermos a comitiva andando a camelo pelos famosos corredores rochosos da Jordânia, é impossível não lembrar de Lawrence da Arábia com sua panorâmica fotografia, ressaltando as belas e desérticas passagens, e (quase) o mesmo contexto histórico, drasticamente com uma escala mínima e apenas como subtexto.

Exaustivo e sem ter muito a contar, O Lobo do Deserto (Theeb) deixa de explorar as parcerias incertas que o protagonista é obrigado a fazer, longe de ser bem humorado ou até amedrontador como os icônicos duos e trios dos westerns de Sergio Leone, isso que não faltam tiroteios também. Do MacGuffin (um elemento que move a trama para dar motivação aos personagens) que leva Theeb até um cenário de guerra, o deserto se mostra um gigante indomável onde, no fim, é cada um por si e capaz de transformar aqueles que parecem menos favoráveis a sobreviver. O trem pode vir a passar, mas estaria a jornada deste Lobo solitário apenas começando?




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